Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianos

Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianos

12 Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianos

O movimento dos peregrinos é constante, quase avassalador. Eles chegam em grupos expressivos, vindos de pequenas comunidades situadas nos vales a leste do Paquistão. As ruas, antes tranquilas, logo se enchem de vendedores ambulantes e, pouco a pouco, são invadidas pelas cores vibrantes de artistas e trupes circenses. Músicos talentosos dão o tom da festa, entretendo a todos. É um verdadeiro espetáculo de luzes e sons que cativa os sentidos.

Um Rio de Pessoas: A Força da Tradição Ancestral


Mulheres se aproximam dos mais experientes para oferecer oferendas religiosas. Essas doações são destinadas a divindades de regiões distantes, na esperança de assegurar um futuro próspero para seus filhos — e, se possível, que sejam meninos.

À primeira vista, tudo pode parecer apenas mais um dos muitos rituais folclóricos que persistem ao longo do tempo. E de fato é. Conhecido como sang — uma espécie de “feira de encontros” —, o evento ainda acontece em grandes cidades do Vale do Rio Indo, perto da fronteira entre Paquistão e Índia.

Mas existe algo mais profundo por trás desse costume milenar. Ele remonta a uma das civilizações mais avançadas da Antiguidade, que floresceu naquela mesma região há milênios. Não se tratava de egípcios, nem de mesopotâmios ou chineses. Essa civilização, hoje quase esquecida, alcançou um nível impressionante de organização e sofisticação, comparável ao de seus famosos contemporâneos. A diferença é que seu legado não é tão amplamente conhecido nos dias atuais, apesar das interações que mantiveram com outras culturas desenvolvidas. Trata-se da Civilização do Vale do Indo, também conhecida como civilização harappiana — nome que vem de sua principal cidade, Harappa, que servia como capital.

13 Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianos

A Ascensão Esquecida do Vale do Indo

Enquanto as civilizações do Egito, Mesopotâmia e China iniciavam seu apogeu por volta de 3000 a.C., uma cultura notável prosperava simultaneamente no Vale do Rio Indo. Os harappianos desenvolveram conhecimentos e técnicas impressionantes para a época, rivalizando com as grandes potências vizinhas. Em seu período de maior florescimento, entre 2600 a.C. e 1900 a.C., sua influência se estendeu por mais de 1500 assentamentos, abrangendo uma área que superava o tamanho combinado do Egito Antigo e da Mesopotâmia.

Eles construíram cidades vastas e meticulosamente organizadas, com sistemas de saneamento avançadíssimos e edificações complexas. Eram mestres artesãos, especialmente reconhecidos por suas criações em cerâmica e argila. Essa perícia impulsionou Harappa, levando seus habitantes a estabelecer rotas comerciais que se estendiam pelo Golfo Pérsico, Ásia Central e até a Mesopotâmia.

Consequentemente, as cidades harappianas se tornaram importantes polos comerciais do mundo antigo. Seus produtos artesanais eram amplamente distribuídos, com vestígios encontrados até mesmo em escavações arqueológicas mesopotâmicas.

Seu florescimento foi possível graças à agricultura irrigada, facilitada pelos rios Indo e Sarasvati, que permitiam colheitas abundantes e a sustentação de grandes centros urbanos. Cidades como Harappa e Mohenjo-Daro revelam um impressionante grau de planejamento urbano, com ruas retas, sistemas de drenagem avançados, banheiros públicos e edifícios construídos com tijolos padronizados — algo raro na Antiguidade.

Com uma economia baseada na agricultura, artesanato e comércio — inclusive com a Mesopotâmia —, essa civilização era sofisticada, embora ainda pouco compreendida. Seu sistema de escrita permanece indecifrado, o que dificulta o pleno entendimento de sua cultura, religião e estrutura social. Sabe-se, no entanto, que os harappianos viviam de forma relativamente igualitária, sem sinais evidentes de palácios ou templos grandiosos, o que sugere uma sociedade descentralizada.

A queda da civilização do Indo ocorreu por volta de 1900 a.C. e ainda é objeto de debates. Entre as teorias mais aceitas estão mudanças climáticas severas, como o enfraquecimento das monções, terremotos que desviaram o curso dos rios e degradação ambiental. Há também hipóteses sobre conflitos internos e invasões por povos indo-arianos. Seja qual for a causa exata, as cidades foram progressivamente abandonadas e a civilização mergulhou no esquecimento, deixando para trás vestígios silenciosos de um povo que dominou a arte de viver em harmonia com a natureza muito antes de seu tempo.

A Espiritualidade Silenciosa dos Harappianos

A religião da Civilização do Vale do Indo, ou harappiana, permanece um dos aspectos mais enigmáticos dessa cultura milenar, pois eles não deixaram templos grandiosos nem textos religiosos explícitos como os egípcios ou mesopotâmios.O que sabemos sobre suas crenças vem, em grande parte, da interpretação de artefatos encontrados em sítios arqueológicos como Harappa e Mohenjo-Daro: selos de pedra, estatuetas de terracota e outros objetos rituais.

14 Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianos

 

Uma figura recorrente em diversos selos é a de um ser com chifres, sentado em uma pose que lembra yoga, cercado por animais selvagens. Muitos estudiosos interpretam essa imagem como uma protodivindade que pode ter sido uma precursora do deus hindu Shiva, na sua forma de Pashupati (Senhor dos Animais). Isso sugere uma possível veneração a divindades ligadas à natureza e à fertilidade, algo comum em sociedades agrícolas.

A presença de inúmeras estatuetas femininas de terracota, muitas delas adornadas com joias e possuindo características proeminentes, leva à hipótese de que a civilização harappiana reverenciava uma Deusa Mãe. Essa divindade, provavelmente associada à fertilidade, à abundância e à criação, seria central em seus rituais e crenças, refletindo a importância da terra e da reprodução para a sobrevivência da comunidade.

Além disso, a descoberta de grandes piscinas e banheiros nas cidades, como o Grande Banho de Mohenjo-Daro, sugere a prática de rituais de purificação. A água pode ter tido um papel significativo em suas cerimônias religiosas, talvez como um elemento purificador e sagrado.

Apesar da falta de um registro escrito, a religião harappiana parece ter sido profundamente enraizada na natureza e na fertilidade, com uma possível adoração a uma Deusa Mãe e a uma divindade masculina ligada aos animais. Essa espiritualidade, embora ainda envolta em mistério, oferece vislumbres de uma sociedade complexa e com uma rica vida ritualística.

Related Posts

icon-arp-default Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianosicon-arp-default Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianos
A Cidade Perdida de Atlântida: Mito, Mistério...
O nascimento do mito: Platão e a descrição de uma...
Read more
icon-arp-default Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianosicon-arp-default Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianos
O Mecanismo de Anticítera: O Computador da...
Um achado acidental nas profundezas do mar EgeuEm 1901, mergulhadores...
Read more
antigos-egipcios-faraos Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianosantigos-egipcios-faraos Eles eram desenvolvidos tanto quanto a Mesopotâmia e o Egito, conheça os Harapianos
Das Areias do Tempo: A Fascinante Origem...
A civilização egípcia, com suas pirâmides colossais, faraós enigmáticos e...
Read more

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *